terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Sobre... Cinema


Vou comentar sobre um filme que fui ver ontem, O Caçador de Pipas (The Kite Runner). Baseado no livro homônimo, o filme se passa no Afeganistão, inicialmente na década de 70 e posteriormente nos dias atuais, e conta a história de dois garotos, Hassan e Amir. Amir é filho de um homem rico, e Hassan do empregado; mas isso não os impede de serem amicíssimos. O segundo escreve histórias pelas quais o primeiro (que não sabe ler nem escrever) é apaixonado, e Hassan é muitíssimo fiel a Amir, e sempre o defende em brigas e outras situações ruins. Mas, no fundo, Amir inveja a pessoa que Hassan é e o amor que seu pai sente por ele, e acaba não fazendo nada quando vê o amiguinho sendo violentado por um menino mais velho que vivia por ali. Esse fato muda completamente a relação dos dois. Eles acabam separados pelo destino, e o filme então caminha no tempo para mostrar os desdobramentos desses acontecimentos, dentro de um cenário político no qual o Afeganistão está dominado pelo violento regime fundamentalista Talibã.

A história sensibiliza a quem assiste, principalmente a favor de Hassan. Amir na verdade é um banana, e quando cresce continua sendo, hehe... mas o mais interessante é refletir sobre a diferença entre o caráter das pessoas que vivem ali e os ocidentais, quanto à fidelidade mesmo em frente à morte, o respeito extremo, as tradições, a humildade, a honra (tudo isso em relação a outros homens e à pátria). Não me impressiona mais saber que existem homens-bomba que morrem por uma causa, pois, para aquelas pessoas, sua vida é um bem que lhes foi dado para servir àqueles a quem eles são leais... dá muita pena ver como os moradores da região perderam quase toda a esperança frente a tanta guerra e violência. Mas o filme quer contar a história de dois garotos, e não promover discussões políticas.

A direção e a fotografia do filme foram realizadas de modo a contrastar uma Cabul "habitável" do passado com uma cidade desolada após a invasão soviética e o domínio Talebã, e o fazem muito bem (esse contraste chega a ser um tanto chocante, por sinal). E a música é muito tradicional, seguindo a temática árabe - o que era esperado num filme que se passe no Afeganistão.
Pena que os diálogos não partam da mesma premissa. Eles constituem o ponto mais irritante do filme! Nunva vou esquecer de como um livro que eu adorei - Memórias de uma Gueixa - foi adaptado no cinema com um elenco chinês e inteiramente falado em inglês, sendo que os personagens eram japoneses. Mas pelo menos ele era inteiro falado em inglês! Em O Caçador de Pipas eles não se decidiram, e temos dois personagens falando afegão nos EUA, e os mesmos dois falando inglês no Afeganistão... por quê?? Não faço a menor idéia. Acredito que seja porque falar afegão deva cansar a língua e eles queiram alternar um pouco, ou porque a produção quis passar determinadas mensagens em inglês, mas outras ficariam piegas demais se traduzidas, e eles deixaram em árabe mesmo. Ou então... sei lá, alguém me explique por favor.
(Isso sem falar que o filme desanda um pouco em certo ponto e ensina duas lições muito importantes - como cortar uma pipa alheia sendo que a sua está sem cerol, e como construir uma arma de fogo com um pedaço de madeira... hehe, tudo pela mensagem!! Ou algo assim...)

Eu pessoalmente não li o livro, mas meus amigos que leram falaram que ele é bem melhor. Portanto, eu recomendo o filme para pessoas que gostem de uma história com imagens sensíveis e comoventes... para quem quiser se aprofundar mais na história, recomendo uma boa leitura... e para os outros, imagino que assistir Juno na sala ao lado deva valer um pouco mais a pena! Mas isso eu só vou ter certeza depois de assistir...
PS: Não vou colocar o trailer e não recomendo a ninguém que vá ver o filme que o veja antes, porque ele está repleto de spoilers!!

15 comentários:

Unknown disse...

Realmente, o livro é beem melhor!!!!!Eu acho que, de forma geral, essa incoerência do idioma usado poderia ter sido evitada.
Outra coisa que no filme talvez não tenha sido muito explícita, mas no livro fica bem clara é o maniqueísmo usado a favor do Ocidente, tipo, Afeganistão - mau/EUA - bom...mas enfim...
Li o livro, vi o filme e chorei nos dois.

Renata Brunelli disse...

No filme fica explícito sim... porque só mostra afegãos levando uma vida ótima e bem sucedida nos EUA, e horrorosa no Afeganistão. Isso sem contar que com "5 pila" vc atravessa a fronteira entre Afeganistão e Paquistão, hehe, esqueci de mencionar isso no texto...

rizbicki disse...

Por outro lado o livro foi escrito por um afegão que foi para os EUA...

O que achei curioso é que o nome do livro não se refere ao personagem principal (pelo menos no filme a história de Amid é que é central).

jacobCullen disse...

(continuação do 1o parágrafo da msg anterior)

...logo deve haver algum fundamento para ele dizer isso.

Renata Brunelli disse...

O bananão principal vc quis dizer, né? Porque a história é mais focada em como o Hassan afetou a vida do Amir que no Amir em si, acho...

ha hi hu he ho disse...

Uma vez li que o vilao principal
do Oliver Twist foi transformado
em judeu para que o livro fosse
publicado, por que o antisemitismo
era forte na epoca... estes dias
li que o unico filme politico de
costa gravas que criticava a
direita foi o ultimo tambem...
muita coisa so passa pela peneira
quando é opiniao favoravel de
um grupo dominante... como
as manifestacoes a favor e nao
contra um ditador...

Renata Brunelli disse...

É verdade... Tropa de Elite mesmo, teve alguma tentativa da polícia pra evitar que o filme fosse pros cinemas, não? Vou procurar por aí e se encontrar a notícia, posto aqui.

rizbicki disse...

ou em a "A Vida 'e bela" o soldado americano heroicamente resgatando o menino...

Renata Brunelli disse...

Iiixi, patriotismo americano já rende assunto pra um blog inteiro!! Quem vai esquecer o final de homem aranha, um dos filmes de maior bilheteria da história, com ele parado olhando para o horizonte e a bandeira dos eua atrás??? Exemplo clássico...

rizbicki disse...

mas acho que isso foi para rir!! hehehe

Unknown disse...

com tanta propaganda subliminar,
nao é dificil a gente ouvir
o hino americano e por a mao no
peito por engano...

Renata Brunelli disse...

Huahuahua é verdade... mas o do homem aranha a gente riu, agora imagine um menininho que sonha em ser o spider man vendo aquela cena... vai ser mais um que vai crescer sonhando em ir pros eua pq o Brasil é uma droga...

Luiz disse...

O livro realmente é melhor do que o filme, mas vale a pena ver o filme para confrontar sua imaginação com a realidade.
Eu, pelo menos, imaginava muita coisa diferente de como foi mostrada no filme (talvez por um preconceito que é passado para nós pela mídia em geral).

Unknown disse...

Eu gosto do dialogo entre um
pai de uma moça violentada e
o Don Corleone em The Godfather,
tira um pouco da aura sobre a
beleza do American Way of Life.

Renata Brunelli disse...

Esse negócio de confrontar a imaginaão com a realidade é muito verdade, mas depois quando você lê o livro de novo fica muitíssimo difícil tirar da sua imaginação as imagens do filme e imaginar do jeito de antes, pelo menos pra mim. Aconteceu isso comigo no Harry Potter... eu não sei mais como imaginava os personagens antes do filme.. e o único que ainda imagino do meu jeito (Sirius Black), é porque tinha sua imagem baseada num personagem real (o vocalisa dos Ramones, hehe)... mas o resto... na minha cabeça vêm as imagens do filme... uma pena.