quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Sobre... Lazer

Ou: "Por que eu não tenho a menor paciência pra ver o Oscar"

Com alguns dias de atraso que seja, aqui estou eu pra comentar o Oscar. Quando eu era pequena era inimaginável pra mim assistir, simplesmente porque nem acordada pra ver o Topa Tudo por Dinheiro eu conseguia ficar (e olha que eu tentava com muito esforço!!!). Mas depois eu fui crescendo, ficando fã de alguns atores de Hollywood, e comecei a acreditar no que a mídia dizia nessa época: "A maior festa do cinema mundial". Resolvi que devia entrar nessa, não?
Pois é, pena que não consegui... os primeiros prêmios aconteciam no mesmo horário do Fantástico, e a Globo não transmitia, fica apenas anunciando (obs: acho que nessa época eu nem sabia que a TNT também transmitia...). E logo que começava a transmissão, vinha uma tal de homenagem... que sempre era chatíssima, e aí eu dormia!!! :p
Bom, aí eu cheguei à uma humilde conclusão de que o Oscar era chato demais pra meu humilde ser, e que deixaria que as pessoas bacanas, com opinião formada e que entendem qual o significado daquilo tudo, assistissem e fizessem a cobertura completa na mídia depois. Desta forma, eu só teria o trabalho de ficar clicando nas fotos para ver os vestidos das mulheres.
Mas aí, sobrou mais tempo para eu refletir a respeito do significado do prêmio. Quer dizer, um prêmio é feito para homenagear o melhor em alguma coisa, segundo algum critério, não? Quer dizer, o melhor time de um campeonato ganha um prêmio; a melhor dançarina ou o melhor cantor de um concurso podem quem sabe ganhar um contrato ou algo assim.. tudo me parece lógico... O festival de Berlim premiou o Tropa de Elite com o Urso de Ouro porque, segundo o critério dos jurados, este foi o melhor filme do ano, dentre os inscritos no festival...
E então eu concluí que não gosto nem um pouco dos critérios do Oscar. Outro dia eu tava lendo uma prévia do evento no UOL, e tinha um crítico de cinema fazendo suas apostas. Queria achar o link pra pôr aqui, mas não consegui... era basicamente assim: "ah, fulando foi muito bem, mas não vai ganhar porque ninguém viu o filme dele". Ou então: "ah, tal filme é maravilhoso, mas os críticos já enjoaram de filmes sobre o Iraque". Ou ainda (esse eu lembro, era sobre a Ellen Page): "Ah, ela é muito novinha pra ganhar, mas com essa indicação o nome dela ganha mais peso pra concorrer numa próxima vez". Sobre a outra atriz (se não me engano a que ganhou): "ah, a indicação já foi uma homenagem mais que suficiente para ela". Sobre a Cate Blanchett: "O outro Elisabeth era melhor, e ela já não ganhou por aquele". Sobre um ator que ele achava que era favorito: "Ah, ele foi indicado algumas vezes e tem uma carreira importante. Está na hora de a academia recompensá-lo por isso". Entenderam por que eu não assisto?
Atualmente, praticamente todos os que lêem este blog me conhecem pessoalmente, e devem saber que eu ODEIO injustiças. E uma premiação que se propõe a eleger os melhores do ano agir segundo o raciocínio exposto acima, eu acho ridículo. Depois eu vou na locadora e tá lá uma placona: "Filme vencedor de n Oscars". E daí??? Isso quer dizer que provavelmente aquele é um filme sobre um tema de que os jurados ainda não tinham enjoado, com atores que, por terem se envolvido no passado em outros filmes com temas sobre os quais os jurados ainda não tinham se enjoado, acabam favoritos. Eu vi um filme maravilhoso e cheio de arte como Moulin Rouge (mesmo quem não gosta de musicais deve reconhecer que aquele filme é único) perder o Oscar para Uma Mente Brilhante (que é um filme bonito e tal, mas pra ser escolhido o MELHOR DO ANO, foi porque homenageava alguém velhinho e importante, e a academia gosta de homenagens, velhinhos e eventos importantes retratados nos filmes - enfim, não teve nem metade da importância e significado para o cinema mundial que o musical), ou então Shakespeare Apaixonado ganhar um Oscar (hmm, ok, Shakespeare Apaixonado tem um Oscar e Moulin Rouge não). Outro fato interessante: O Senhor dos Anéis só ter ganho Oscars no último episódio, simplesmente porque os outros dois, que eram tão maravilhosos quanto aquele, não tinham final - acho que esse fato caracteriza muito bem o intuito da premiação, que é homenagear por algum motivo, 98% das vezes ligado ao histórico do premiado, e não premiar os melhores do ano. Chicago, que é um musical que tenta seguir o exemplo de Moulin Rouge mas acaba sendo beeeem inferior, tinha final, e levou o prêmio ao invés de A Sociedade do Anel (que foi um marco na história do cinema nerd - mas desde QUANDO os jurados são nerds???). Enfim, eu acho que eles simplesmente não premiam os melhores do ano, e que eles deveriam mudar seu propósito, só isso. Chega de propaganda enganosa.
Enfim, esse ano eu tinha três torcidas, mas é claro que nenhuma delas venceu (porque se agradou a mim é óbvio que não agradou aos jurados, que não comem pipoca durante o filme e têm uma opinião superior). Uma delas era a já citada Ellen Page (porque ela é legal, hehe, só isso). A segunda Desejo e Reparação, que não ganhou nada que preste. E a outra era uma música do filme Encantada, que perdeu para uma outra lá... vou deixar o link dela aqui, porque é bem bonita. Ah é, e viva o Ratatouille!

13 comentários:

rizbicki disse...

Segundo Woody Allen, arte e' algo que nao se pode julgar. Nao sei se ele falou isso porque ate entao nunca tinha ganhado um oscar ou se ele realmente acreditava nisso, mas concordo com ele.

Anônimo disse...

Acontece o mesmo em competições sem critérios técnicos de disputa, como uma competição de kung-fu, onde são apresentados os katis (ou katas, para o karatê).
Ao ver, o juiz simplesmente dá a nota de acordo com o que ELE considera justo, sem base em uma relação de descontos de nota a partir de um valor inicial (como na ginástica olímpica).
No caso do oscar, é muito pior pois estão envolvidos fatores econômicos e socia(lites)is, onde quem quer, ou tem poder/influência começa na frente... como seus exemplos bem descrevem... Ou você acha que eles dão o prêmio porque a interpretação foi mais convincente, ou a música melhor (melhor música... gostari muito de entender isso... é ainda mais difícil do que melhor ator/atriz ou direção ou etcs...)

Renata Brunelli disse...

É verdade... comparar o kung fu com o Oscar é como dizer que o juiz dá mais nota se o cara tem mais tradição, e não se ele se apresentou bem ali na hora...
Acho que o exemplo da ginástica olímpica é bom. Eles têm um livretinho onde está bem definido quanto cada elemento influencia no valor de saída da série, e depois eles vão descontando... mas antes não era assim, e tinha muita injustiça. Em compensação, depois que eles mudaram o sistema de nota na ginástica (notem que a nota vai até 16, e não até 10), não me lembro de ter ouvido falar de uma nota máxima...

Unknown disse...

É claro que o Oscar tem critério,
assim como a Fifa e muitas bancas
academicas. Quem faz as regras
e julga as vezes é infinitamente
inferior ao ser julgado. Não lembro a frase do Anton Ego no ratatouille
sobre criticos, mas é por ai mesmo... os homens, no caso
jurados, que tem poder e nenhuma
necessidade de prestar contas
de seus atos podem ser arbitrarios
e ficar com a consciencia tranquila. Como na contagem de
votos a favor da cassacao do
Calheiros...

Alias, o proposito principal de
ser injusto usando uma grande festa
como enfeite é fazer as pessoas
acreditarem que ser injusticado
é o destino da reles maioria, e
que o melhor é deixar por isso
mesmo. E para dar um toque de
justica divina dao o premio a quem
ja esta com o pe na cova... quase
como o soldado condecorado por bravura por ter morrido em combate... assim todos se sentirao
na obrigacao de dar ate a
ultima gota de suor para talvez
ser recompensado
e provar que os que aceitam
o sistema de injusticas poderao
ser agraciados pela bondade dos
injustos.

Unknown disse...

so sei que o criterio da
ginastica olimpico estraga a beleza
do esporte, por que se medem os
defeitos em vez das virtudes.
É transformar arte em numeros...
Ao inves de julgarem os maus
julgadores, criam regras
aparentemente mais justas que
preservam os direitos de alguem
julgar mal ou nem saber julgar...

Unknown disse...

os grande eventos de premiacao
com injusticas é a versao
moderna dos contos de fada...

Unknown disse...

eu assisti happy feet recentemente
e nao entendi como ele ganhou de
carros...

Renata Brunelli disse...

Essa comparação do soldado de guerra foi muito boa... acho que eu escrevi o post inteiro pensando exatamente nisso, mas não veio o exemplo concreto na minha cabeça...
(E o fato de terem criado o Oscar de animação já acho uma pena... acho que se assustaram qdo A Bela e a Fera concorreu a Melhor Filme, e até mesmo mereceu ganhar o prêmio... e jogaram esses filmes "sem atores pra reclamar" pra escanteio!! Teve ano com dois filmes concorrendo a Melhor Animação...)

Luiz disse...

Discordo com você com relação ao Moulin Rouge. Esse filme teve uma grande repercursão, sim, mas "Uma Mente Brilhante" teve uma maior ainda, com uma excelente atuação do Russell Crowe (é assim q escreve?) e um contexto histórico mais rico. Acho que ele mereceu mais ganhar do que Moulin Rouge.
Mas concordo que o Oscar é mais uma premiação política (quem tem mais influência nos jurados leva) do que artística.
Outro ponto interessante de notar é que, pelo menos nos anos anteriores, o Oscar de melhor filme (se não me engano) foi para filmes alternativos, teoricamente sem grande influência no cinema. Parece que foi só pra disfarçar...

rizbicki disse...

Ainda acho que não faz muito sentido julgar um filme com frases do tipo "este filme é melhor que este outro". Mas faz sentido dizer "gosto mais deste que deste outro"...
Falar em melhor filme do ano como algo universal, como no Oscar, acho meio pretensioso...mas pode-se até dizer "para mim esse é o melhor filme do ano".

Unknown disse...

Pior que a premiacao do Oscar
é a Academia Brasileira de Letras.
A gente podia criar a academia
de brasileira de numeros, por que
letras só em 23, e numero dá
para todo mundo :p

Unknown disse...

premiacoes ao inves de ser
o resultado do talento, é em
geral usado como a demonstraçao
do talento. Como os novos ricos
que se casam com famiias
nobiliarquicas, para ter um status.

Renata Brunelli disse...

Z, acho que não dá pra comparar o contexto histórico dos dois filmes e dizer que o de Uma Mente Brilhante é mais rico, porque o Moulin Rouge simplesmente não tem nenhum... e também acho que é um ótimo filme, mas é um filme como outras biografias cheias de história e com excelentes atuações que você vê por aí. Se fosse assim Johnny e June merecia o Oscar de melhor filme, porque a atuação da Reese Witherspoon foi tão maravilhosa que ela, err, ganhou o Oscar...
Moulin Rouge não é igual a nada do que você vê por aí, e foi muito bem sucedido no que tenta ser... esse fator que eu acho que deveria ser reconhecido...
E qanto ao que eu acho da premiação, bem... meu post diz tudo! :p